sábado, 25 de outubro de 2014

Santos, por quê?


  • Porque Ele é santo 
"Portanto, estejam com a mente preparada, prontos para a ação; sejam sóbrios e coloquem toda a esperança na graça que lhes será dada quando Jesus Cristo for revelado.
Como filhos obedientes, não se deixem amoldar pelos maus desejos de outrora, quando viviam na ignorância.
Mas, assim como é santo aquele que os chamou, sejam santos vocês também em tudo o que fizerem, pois está escrito: "Sejam santos, porque eu sou santo".
Uma vez que vocês chamam Pai aquele que julga imparcialmente as obras de cada um, portem-se com temor durante a jornada terrena de vocês."
1 Pedro 1:13-17

Santidade originalmente significa "separado". Este é um conceito relativamente fácil de se compreender quando falamos de Deus, pois diante de toda sua grandiosidade, glória e poder, percebemos que Ele deve ser, por definição, separado de Sua criação em suas características. 

Agora, a maior definição possível para a santidade de Deus é a de que Ele é totalmente separado do pecado. Como essencialmente Santo, ainda que Ele se relacione com sua criação revelando através dela sua glória e seus atributos (Rm 1:20), Ele odeia o pecado ao ponto de requerer uma separação total dele, e como justo Juiz, exigir seu pagamento (Rm 1:18).

Portanto, como filhos obedientes (14), não devemos viver como éramos quando não conheciamos o quanto o nosso pecado era odiado por este Ser glorioso e Santo, mas devemos viver uma vida com novos interesses e desejos, longe das paixões antigas e desejos egoístas. Longe de desejos que roubavam a glória de Deus. E o texto nos apresenta o termo "amoldar", que denota a conformação, o que é muito diferente de uma vida de luta contra nossos pecados.

Visto que a impecabilidade só virá no céu, devemos viver uma vida santa para a honra e glória de nosso Deus, pedindo mais de seu Espírito Santo (Lc 11:13) para combater e mortificar nossos pecados (Rm 8:3), sem nos amoldar ou conformar a eles. Se antes de conhecer a verdade de Deus éramos mentirosos, que não mintamos mais. Infelizmente vamos sim, em razão de nossa impecabilidade contar uma mentirinha ou outra, mas nunca mais devemos ser mentiroso, amoldados à mentira. Se tinhamos apego à cobiça, se não podíamos ver nossos amigos com terem coisas melhores que as nossas sem ardentemente desejar para nós, aprendemos com Deus a ser contentes com o que temos. Infelizmente, podemos invariavelmente, cobiçar algo em nossos corações. Mas nunca mais seremos amoldados à cobiça. Portanto a ordem é para que não nos amoldemos à desejos da época de nossa ignorância, de quando não conheciamos as santas verdades de Deus.

Pedro também nos instiga, de forma objetiva, a vivermos com temor (17) àquele a quem chamamos de Pai enquanto estamos nesta vida ou jornada terrena. Este temor não é uma atitude medrosa ou temerária por alguma punição. Deus é justo sim, e Ele punirá toda iniquidade (Jo 3:18). Mas aos crentes à quem Pedro dirigiu a carta e à nós, não caberá punição (Rm 8:1). Então porque viver em temor? Pela grandiosidade deste Pai. Pelo seu poder, amor, majestade, glória, força, imensidão, autoridade, infinitude, eternidade, justiça, entre tantos outros (Rm 11:33-36). Temos um relacionamento de filho com este ser Perfeito, e isto não deve nos levar a ter uma vida igual à de quem não é filho Dele nesta terra, nesta peregrinação. Levando uma vida de temor à Deus mostraremos automaticamente às outras pessoas suas características. Seremos reflexos e canais de seus, e unicamente seus, gloriosos atributos nesta terra (2 Co 3:3). Além disso, como peregrinos nesta terra, devemos viver como quem tem sua esperança na morada final. Sabendo que Jesus está agora nos preparando uma morada, nossos olhos nunca devem perdê-la de vista. E uma vida de santidade é o que se espera de alguém que está esperando para morar com Jesus Cristo.

  • Pelo preço

"Pois vocês sabem que não foi por meio de coisas perecíveis como prata ou ouro que vocês foram redimidos da sua maneira vazia de viver que lhes foi transmitida por seus antepassados, mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha e sem defeito, conhecido antes da criação do mundo, revelado nestes últimos tempos em favor de vocês.
Por meio dele vocês crêem em Deus, que o ressuscitou dentre os mortos e o glorificou, de modo que a fé e a esperança de vocês estão em Deus."
1 Pedro 1:18-21

Outro aspecto fundamental que deve nos levar a uma vida de santidade é o preço pelo qual fomos comprados. Quando fomos remidos e nossos pecados foram pagos naquela cruz. Mas eles não foram pagos com moeda ou ouro. Não foram pagos por nossas atitudes, por nossas boas ações, por nosso serviço pela igreja. Nossos pecados foram pagos pelo precioso sangue do cordeiro. O Filho de Deus foi feito oferta pelo pecado (Rm 8:3; 2 Co 5:21), pois somente um sacrifício perfeito poderia apascentar a ira de um Deus perfeito.



Certamente ele tomou sobre si as nossas enfermidades e sobre si levou as nossas doenças, contudo nós o consideramos castigado por Deus, por ele atingido e afligido.Mas ele foi transpassado por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniqüidades; o castigo que nos trouxe paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados.Isaías 53:4-5
Jesus não desviou a Ira de Deus que estava sobre nós (justificados), Ele a absorveu!Josemar Bessa

"O sentido da cruz é horrivelmente distorcido, quando os profetas contemporâneos que pregam a auto estima dizem que a cruz é testemunha do meu valor infinito, já que Deus estava disposto a pagar um preço tão alto para me alcançar. A perspectiva bíblica é que a cruz é testemunha a favor da infinita dignidade da glória de Deus e contra a imensidão do pecado de meu orgulho. O que deveria chocar-nos é que temos trazido tanto desprezo sobre a dignidade de Deus que a morte de seu próprio Filho foi requerida para vindicar esta indignidade. A cruz se levanta como testemunho da infinita dignidade de Deus e o infinito ultraje do pecado." John Piper

Diante da perspectiva de qual a grandiosidade e glória deste que derramou seu sangue na cruz para pagar nossos pecados. O Verbo que se fez carne (Jo 1:1), aquele que é a imagem do Deus invisível, por meio de quem tudo foi feito, tudo existe e subsiste (Co 1:16-19), aquele que tem todas as coisas sob os pés (Ef 1:22), o Filho amado de quem o Pai se compraz (Mc 1:11), aquele que é um com o Pai (Jo 10:30). Este que, rejeitado, ouviu seu povo gritando "Mata-o, mata-o, crucifica-o" (Jo 19:15). Este que, pelo nosso pecado, foi cuspido, espancado, zombado (Mt 27:30-31), pregado numa cruz entre ladrões (Mt 27:38), nele foi colocada uma coroa de espinhos (Mc 15:17), no sofrimento da cruz disse "tenho sede" e lhe deram uma esponja embebida em vinagre para beber (Jo 19:29), este que expirou depois de tanto sofrimento dizendo "está consumado"(Jo 19:30).

Mas esta história não termina aí. Estava consumado, a ira do Santo Deus estava satisfeita. Mas este Jesus Cristo, o glorioso Deus Filho, foi ressuscitado. Vencendo a morte, pisando na cabeça da serpente (Gn 3:15). E este Jesus homem hoje está em posição de honra, à direita do Deus Pai (Lc 22:69). Nos preparando morada (Jo 14:23). E é olhando para esta morada que, vivendo de maneira digna dela e pelo que ela custou, devemos viver em santidade. E percebendo que este sacrifício foi a manifestação do amor de Deus (Jo 3:16), viveremos de maneira santa, não pela lei, por regras de homens, por condutas sociais, ou por aparência de religiosidade, mas por quê o amor de Cristo nos constrange (2 Co 5:14).
  • Conclusão
Seremos santos vivendo com a perspectiva do céu, na esperança da volta de Cristo. Devemos ser santos nesta jornada como Deus é Santo, para agrada-lo e glorificá-lo, e para que outros pessoas vejam a ação de Deus em nós e creiam Nele. Seremos Santos quando vivermos com a perspectiva do que custou nossa salvação, o Sangue de Cristo. E seremos Santos, quando vivermos contemplando a glória de Deus na ressureição de Cristo. Somos Santos porquê já temos a vitória eterna em Jesus. É quando entendemos que vivendo uma vida sob as perspectivas do temor e do amor de Deus, somos santos para a glória Dele.

Também no blog Bereianos.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Sodoma foi destruída por causa da injustiça social?

Ezequiel 16:49, 50
" Eis que esta foi a iniqüidade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão e próspera tranqüilidade teve ela e suas filhas; mas nunca amparou o pobre e o necessitado. Foram arrogantes e fizeram abominações diante de mim; pelo que, em vendo isto, as removi dali."
Deus destruiu Sodoma e região por causa da injustiça social. E por causa das abominações que sempre seguem a injustiça social.
Em cada decisão política sempre está em jogo se a justiça social vai ser levada a cabo ou não.
E, mais, onde a injustiça social campeia, as demais barbaridades a seguem, porque os opressores não se contentam em roubar aos pobres, eles querem humilhar e destruir.
Nesta decisão sobre o Brasil, me coloco sob a sombra da cruz, e, ainda, sob o impacto do Pinheirinho, onde 1600 casas dos pobres foram destruídas.
Acima da injustiça social, o motivo da destruição de Sodoma foi sua perversidade, que resultava em injustiça social como em tantas outras abominações. Ou seja, em primeira instância, Sodoma teve o juízo de seu pecado, pelas acusações que chegaram diante de Deus (era um povo que não O seguia), limitar isso à injustiça social é limitar o efeito do pecado sobre uma nação.

Um país governado por um sistema de governo cujo o princípio ideológico é ateu, como o atual, vai resultar na degradação moral do povo, que vai gerar a injustiça social. Miséria controlada ainda é opressão.

Onde não há perfeição nem santidade, temos que orar pelo melhor caminho e avaliar bem, até onde podemos, em que rumos as propostas podem levar o país e que parâmetros declarados seguem os candidatos. Este mesmo texto bíblico apresenta o trecho "Foram arrogantes e fizeram abominações diante de mim". Não dando a entender que apenas a injustiça social foi o motivo único.

Vamos a outros trechos que apresentam a destruição de Sodoma:

"Ló saiu da casa, fechou a porta atrás de si
e lhes disse: "Não, meus amigos! Não façam essa perversidade!" e
"Os dois homens perguntaram a Ló: "Você tem mais alguém na cidade — genros, filhos ou filhas, ou qualquer outro parente? Tire-os daqui,
13 porque estamos para destruir este lugar. As acusações feitas ao Senhor contra este povo são tantas que ele nos enviou para destruir a cidade"." Gênesis 19:6-7, 12-13

Se você conhece a história, sabe que Ló os alerta de não cometer uma violência pessoal que não tem nada a ver com injustiça social.

"De modo semelhante a estes, Sodoma e Gomorra e as cidades em redor se entregaram à imoralidade e a relações sexuais antinaturais. Estando sob o castigo do fogo eterno, elas servem de exemplo." - Judas 1:7

Veja que as cidades não servem de exemplo apenas pelo castigo da injustiça social, e que o castigo não foi apenas para isto.

"Pois Deus não poupou os anjos que pecaram, mas os lançou no inferno, prendendo-os em abismos tenebrosos a fim de serem reservados para o juízo.
Ele não poupou o mundo antigo quando trouxe o dilúvio sobre aquele povo ímpio, mas preservou Noé, pregador da justiça, e mais sete pessoas.
Também condenou as cidades de Sodoma e Gomorra, reduzindo-as a cinzas, tornando-as exemplo do que acontecerá aos ímpios;
mas livrou Ló, homem justo, que se afligia com o procedimento libertino dos que não tinham princípios morais
( pois, vivendo entre eles, todos os dias aquele justo se atormentava em sua alma justa por causa das maldades que via e ouvia )." - 2 Pedro 2:4-8

Aqui a punição das cidades são comparadas à outras punições que não aconteceram pela injustiça social praticada pelos punidos, e a torna exemplo do que acontecerá aos ímpios, relatando a seguir outros tipos de comportamentos típicos de ímpios além da injustiça social.

Seu raciocínio pode levar seus leitores, como levou, a compreenderem que "justiça social para Deus é tudo".
"Tudo" é tão abrangente que pode nos levar a pensar que injustiça social é a definição do que é pecado. E por favor, Cristo não morreu pela injustiça social apenas.

Nem toda injustiça é injustiça social. Matar, roubar, mentir, etc. Não são injustiças sociais mas cometemos com outras pessoas, e também são pecados (dentre tantos outros) que serão punidos à exemplo de Sodoma, sem o perdão que há em Cristo.

O pecado tem caráter individual que se reflete em conseqüências sociais. A injustiça social é uma das consequências do pecado, não a definição dele.

Também em Bereianos.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Nota: Legalização do aborto

Métodos contraceptivos já existem. Pílula do dia seguinte em caso de estupro também. Legalizar o aborto é condenar crianças à morte em troco da vida das mães inconsequentes (não em todos os casos, claro). Se as crianças abortadas são vidas, é necessário, portanto, protegê-las com lei, como a que existe. E um direito à vida não vale mais que outro. A solução para evitar o aborto é investimento em educação e boa cultura, não legalizá-lo. Considerar o aborto como crime é uma posição totalmente compreensível numa democracia.

Claro que é um fato, há mulheres sofrendo e morrendo, mas o número de crianças mortas certamente será muito maior que o de mães. A pergunta é a seguinte: No ventre há uma vida? Se há, é justo permitir que uma pessoa acabe com uma vida para se poupar de sofrimento? É justo que uma pessoa tenha o direito de tirar a vida de outra?

A lei é justamente para não permitir que uma pessoa se meta na vida de outra e não permita que ela viva. Se é para cada um fazer o que quer com sua vida e não se meter na dos outros, que direito tem alguém de escolher que uma criança não viva?

Que haja mais ensino sobre prevenção, responsabilidade, dignidade da vida humana, e, caso haja um aborto, que esta mãe tenha todo amparo. Mas que uma pessoa nunca tenha o direito de tirar outra vida inocente.

O argumento é que a criança será abandonada, mas então é melhor a morte que o abandono? Ou orientar para que não haja abandono?

O amor próprio não pode dar o direito decisão sobre a vida ou morte de alguém.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Cristãos, o pecado dos outros e o discurso de ódio


Confundir a mensagem cristã com discurso de ódio é prova cabal de ignorância e má vontade, somente o desconhecimento do evangelho de Cristo pode fazer alguém tomar alguns comportamentos de cristãos ou fatos tristes do cristianismo como mensagem cristã. Mas deve ser aceita a mea-culpa de alguns cristãos que pensam que pecado é ofensa à eles, como se não fossem pecadores e, que só porquê tem referências de valores absolutos, se fazem juízes destes valores, quando este nunca foi seu papel.

O desafio do cristão é apresentar os valores absolutos sem se considerar juiz de quem não os pratica. O juízo não pertence aos cristãos, mas a Deus. Quando um cristão se faz juiz do pecado dos outros, corre o risco de o fazer se considerando mais justo que ele, esquecendo que também é pecador e que só é justo diante de Deus por imputação da justiça de Cristo, nunca pela própria.

Embora por vezes mal interpretados por quem os acusa, os cristãos tem dois grandes mandamentos, e nenhum deles é ser juiz ou acusador.

"Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento.
Este é o primeiro e grande mandamento.
E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo."
Mateus 22:37-39

Um mandamento implica que o cristão não deve abrir mão de seus valores absolutos, outro que deve amar o próximo. A realidade do pecado deve ser apresentada, pois ele existe e suas consequências são graves. Mas o pecado é, em primeira instância, uma ofensa à Deus, e não a cristãos. E nesta apresentação, os dois grandes mandamentos devem ser obedecidos, de forma que as verdades absolutas devem ser propostas, não impostas. Apontadas, mas não acusadas. Pois a obediência aos parâmetros divinos não é regra absoluta a quem não crê, que tem todo o direito de recusar, mesmo que arque com as consequências desta recusa. E a demonstração de amor ao próximo diante da apresentação da realidade do pecado vem do exemplo de Cristo, com perdão e acolhimento, mas nunca com negação do pecado. 

A rejeição de alguém a esta realidade não deveria ofender nenhum cristão, e nem fazê-los passar a mínima impressão de que são melhores do que quem a rejeita. Na perspectiva dos dois grandes mandamentos, ainda que alguém rejeite a mensagem, qualquer postura que não seja de amor diante desta pessoa deve ser rechaçada.

Apresentar a realidade do pecado é sim um dever, mas sem os grandes mandamentos será apenas acusação e imposição de valores. A mensagem do evangelho deve ser rejeitada pelo seu conteúdo (realidade do pecado e do perdão), e não pelo comportamento iracundo de quem a transmite.

Os cristãos devem sim ser vistos como pessoas que creem em valores absolutos, mas se são vistos como pessoas que não amam, está tudo errado. 

Sem seguir o segundo grande mandamento de Cristo, haverá discurso de ódio. Os cristãos podem, pelo conhecimento que tem da Bíblia, reconhecer o pecado e transmitir ao pecador a necessidade de arrependimento em forma de alerta, mas o desejo mais profundo no coração de quem fala do pecado de outra pessoa deve ser, em amor, sua salvação, não um desejo de uma vingança que não nos pertence. Em tempos em que alguns expoentes midiáticos e até políticos cristãos aparecem mais pelos seus discursos puramente condenatórios que pela mensagem de perdão que há na cruz, que não entremos pelo mesmo caminho, transformando em discurso de afastamento, ódio e repulsa, uma mensagem tão linda, pacífica, amorosa e reconciliadora, como a das boas novas de Jesus.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Nota: Sociedade judaico-cristã, lei e justiça social

Na verdade o cristianismo e seu conceito de justiça são derivados de uma interiorização dos significados transmitidos pela lei mosaica. Muita coisa que acontecia na época de Jesus já era uma deturpação rigorosa e fria da lei mosaica, e a aplicação desta justiça já não era a divina, mas a injusta e humana como na conhecida história da mulher samaritana.

Cristãos que justificam com as punição pelas próprias mãos já estão em desacordo com a interpretação da lei que Jesus trouxe. Para os cristãos a sociedade gera sim seus próprios valores, o que não quer dizer que cristãos não possam viver os seus ou tentar influenciá-la, já que são parte da sociedade e tem todo direito a isso. Mas tentar impor uma moral cristã a uma sociedade laica é errado, pois está nivelando a moral, e consequentemente a justiça, com o que é pecado ou não. E pecado é uma condição pessoal, não social, ainda que suas consequências possam ser sociais.

Enfim, a justiça é gerada pela sociedade diante dos direitos e da preservação das propriedades e fornecimento de oportunidades a todos. A aplicação deve ser executada pelo representante da sociedade, o estado. O garoto do poste não estava aplicando justiça se virmos pelo aspecto de que causou injustiça a quem ele roubou. A sociedade gera justiça. A sociedade cobra.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O cristão e a justiça com as próprias mãos

Tenho visto um aumento das discussões nas redes sociais sobre esquerda, direita, justiça, dignidade humana, etc. E tenho observado posicionamentos de cristãos sobre acontecimentos recentes na sociedade, principalmente o mais recente do menor delinquente que foi amarrado nu à um poste no Rio de Janeiro por um grupo de pessoas conhecidos na região por fazerem justiça com as próprias mãos.


Uma parte dos cristãos (pelo menos a que tem se manifestado) se diz a favor deste tipo de ato por ser uma forma de garantir a proteção dos cidadãos "de bem" e dar uma lição à um infrator, já que o aparelho do Estado que deveria fazer isso não cumpre muito bem suas funções (há diversas possíveis razões para isso, mas não entrarei na questão). Estes são os também considerados conservadores de direita. 

E um exemplo disso está no seguinte vídeo com a opinião da controversa jornalista Rachel Sheherazade, alegadamente cristã, sobre o acontecimento:


No vídeo ela diz que, mediante à situação da segurança pública do país, um ato como este dos justiceiros é justificável e compreensível. E observando a repercussão desta opinião e os comentários sobre, podemos ver que muitos cristãos estão concordando e a apoiando com falas como "me representa".

Na contrapartida estão se manifestando os esquerdistas, em geral defensores dos Direitos Humanos, argumentando que o que aconteceu com o garoto foi outro crime. Que não cabe à população fazer justiça com as próprias mãos, pois já temos instituições responsáveis por isso. Que este tipo de atitude apenas vai gerar mais violência da parte do garoto e de seu grupo.

O problema do conservadorismo cristão diante da justiça com as próprias mãos


A concordância e o apoio de alguns cristãos que, geralmente influenciados pelo pensamentos conservadores e de seus exponentes, se comportam em favor da humilhação do ser humano caso ele "mereça" e da justiça aplicada com as próprias mãos pode afastá-los de algumas das principais mensagens do evangelho: a dignidade humana, o amor ao próximo e a ponte para salvação.

Dignidade humana

E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra.
E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. Gênesis 1:26-27
Fomos criados à imagem e semelhança de Deus, e ainda que não tenha sido na totalidade de seus atributos, somos seres de maior dignidade do que o restante da criação. Além de maior dignidade, diferentemente do restante da criação, fomos criados diretamente, pela mão de Deus, enquanto os outros seres foram criados pela Palavra. E por esta criação especial e com propósitos, Deus nos abençoou com honras e glórias, ainda que maculados pelo efeito do pecado Ele tem um relacionamento especial, em relação ao restante da criação, com todos os seres humanos.
Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que ali firmaste,
pergunto: Que é o homem, para que com ele te importes? E o filho do homem, para que com ele te preocupes?
Tu o fizeste um pouco menor do que os seres celestiais e o coroaste de glória e de honra. Salmos 8:3-5

Amor ao próximo


O ensinamento de amor ao próximo que Jesus Cristo deixou é muito conhecido, mas mal interpretado pela sociedade, que cobra que os cristãos sigam este ensino. Porém, as pessoas que nos fazem esta cobrança querem apenas o que convém quando nos pedem para imitar a Cristo. Querem que o sigamos e acolhamos os pecadores, mas não querem que façamos o que Jesus fazia em seguida orientando o caminho correto, como no caso da mulher adúltera.
Então Jesus pôs-se de pé e perguntou-lhe: "Mulher, onde estão eles? Ninguém a condenou? "
"Ninguém, Senhor", disse ela. Declarou Jesus: "Eu também não a condeno. Agora vá e abandone sua vida de pecado". João 8:10-11
Um dos problemas que vejo nos cristãos que apoiam justiça com as próprias mãos e demonstram até um certo prazer nestas situações me faz lembrar a parábola do bom samaritano.
Certa ocasião, um perito na lei levantou-se para pôr Jesus à prova e lhe perguntou: "Mestre, o que preciso fazer para herdar a vida eterna? "
"O que está escrito na Lei? ", respondeu Jesus. "Como você a lê? "
Ele respondeu: " ‘Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todas as suas forças e de todo o seu entendimento’ e ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’".
Disse Jesus: "Você respondeu corretamente. Faça isso, e viverá".
Mas ele, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: "E quem é o meu próximo? "
Em resposta, disse Jesus: "Um homem descia de Jerusalém para Jericó, quando caiu nas mãos de assaltantes. Estes lhe tiraram as roupas, espancaram-no e se foram, deixando-o quase morto.
Aconteceu estar descendo pela mesma estrada um sacerdote. Quando viu o homem, passou pelo outro lado.
E assim também um levita; quando chegou ao lugar e o viu, passou pelo outro lado.
Mas um samaritano, estando de viagem, chegou onde se encontrava o homem e, quando o viu, teve piedade dele.
Aproximou-se, enfaixou-lhe as feridas, derramando nelas vinho e óleo. Depois colocou-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele.
No dia seguinte, deu dois denários ao hospedeiro e disse-lhe: ‘Cuide dele. Quando voltar lhe pagarei todas as despesas que você tiver’.
"Qual destes três você acha que foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes? "
"Aquele que teve misericórdia dele", respondeu o perito na lei. Jesus lhe disse: "Vá e faça o mesmo". Lucas 10:25-37
Temo que quando cristãos estão achando justa a punição com as próprias mãos, eles estão se parecendo mais com o levita e com o sacerdote que, vendo o homem, passaram pelo outro lado, do que com o samaritano, que foi o próximo e amou o caído como a si mesmo. Estes homens que são amarrados em postes, são espancados nas ruas e marginalizados devem sim sofrer as consequências pelos seus atos, mas quem deve aplicá-los, salvo a legítima defesa, é o Estado, que é o elemento constituído para punir, como reconheceu Jesus, que apesar de inocente, quando condenado como criminoso reconheceu que era o governador Pilatos quem havia sido constituído para aplicar a punição.
"Você se nega a falar comigo? ", disse Pilatos. "Não sabe que eu tenho autoridade para libertá-lo e para crucificá-lo? "
Jesus respondeu: "Não terias nenhuma autoridade sobre mim, se esta não te fosse dada de cima." João 19:10-11a
Nossa mensagem de amor ao próximo não é apenas um ato social benevolente, um acolhimento cego ou algo romântico e raso. Nossa mensagem de amor é uma ordenança deixada por Jesus Cristo. É a luz para o mundo. É como o mundo nos verá e saberá que estamos com o Pai. Nosso comportamento é observado pelo mundo para que brilhe não de forma hipócrita e legalista, mas como um fruto verdadeiro do nosso relacionamento com o Pai diante dos homens. Opiniões como a destes que defendem a humilhação e a justiça com as próprias mãos podem ser um desserviço ao evangelho diante dos homens.
Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus". Mateus 5:16

Porta para salvação


Temo também, e com mais tristeza, que quando estamos apoiando e nos alegrando com atos de indignidade humana, de justiça com as próprias mãos, falta de compaixão e amor, estamos nos impedindo de abençoar estes criminosos e marginalizados que diante de Deus são tão pecadores e carecedores da graça de Deus quanto nós. Sendo assim, qualquer tipo de justiça com as próprias mãos deve nos ser injustificável, incompreensível e inaceitável. 

Diante de um mundo com tanta maldade e injustiça sendo feitas, temos que nos atentar para não sermos mais um dos propagadores e aplicadores destes males. Temos que tomar muito cuidado para, quando soubermos de algum desses marginais ou criminosos sendo "justiçados", olharmos para eles como antes disso tudo, pecadores. Criminosos merecem punição, e esta aplicada pelo Estado. Mas pecadores carecem da graça de Deus, a qual nós somos canais.

Concluindo, deixo esta passagem do momento da crucificação de Cristo. Que isso mexa com o coração de vocês como mexeu com o meu. E que tenhamos cuidado para não impedirmos a nós mesmos de levar a mensagem de salvação à toda criatura.
Dois outros homens, ambos criminosos, também foram levados com ele, para serem executados.
Quando chegaram ao lugar chamado Caveira, ali o crucificaram com os criminosos, um à sua direita e o outro à sua esquerda.
Jesus disse: "Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo". Então eles dividiram as roupas dele, tirando sortes.
O povo ficou observando, e as autoridades o ridicularizavam. "Salvou os outros", diziam; "salve-se a si mesmo, se é o Cristo de Deus, o Escolhido".
Os soldados, aproximando-se, também zombavam dele. Oferecendo-lhe vinagre,
diziam: "Se você é o rei dos judeus, salve-se a si mesmo".
Havia uma inscrição acima dele, que dizia: ESTE É O REI DOS JUDEUS.
Um dos criminosos que ali estavam dependurados lançava-lhe insultos: "Você não é o Cristo? Salve-se a si mesmo e a nós! "
Mas o outro criminoso o repreendeu, dizendo: "Você não teme a Deus, nem estando sob a mesma sentença?
Nós estamos sendo punidos com justiça, porque estamos recebendo o que os nossos atos merecem.
Mas este homem não cometeu nenhum mal".
Então ele disse: "Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu Reino".
Jesus lhe respondeu: "Eu lhe garanto: Hoje você estará comigo no paraíso". Lucas 23:32-43
À Deus toda a glória!

Nota: Direita, esquerda, mal e bem

Em características gerais, e ainda que eu não goste muito de rótulos, é possível se fazer uma breve análise sobre os dois grupos que reagem à questões políticas e sociais: a direita e a esquerda.

Boa parte dos cristãos são os considerados conservadores de direita, que tem como características gerais serem contrários à um tipo de política de controle estatal, inúmeros benefícios sociais, são a favor da livre iniciativa, da ação do indivíduo como agente de mudanças na própria condição e na sociedade, preservador da instituição familiar e que se posicionam contra algumas questões ditas progressistas como liberação de drogas, direitos a homossexuais, entre diversas outras.

Na contrapartida estão se manifestando os esquerdistas. Este grupo é em geral a favor de um Estado mais presente na sociedade como órgão de controle, legislador e distribuidor de recursos, promovendo igualdade de gêneros, raças e classes sociais. Há uma visão, em suma, humanista da realidade, derivada dos pensamentos do maior criador de sua ideologia: Karl Marx.

Basicamente a diferença entre os dois, quando esta não está nos valores morais e éticos de cada um, está sua opinião sobre o nível de atuação do Estado na vida da sociedade e sua influência na vida das pessoas.

Sob o ponto de vista cristão os conservadores e os "esquerdistas" nunca se entenderão por um motivo que creio ser o principal: a perspectiva da realidade humana.

Para os cristãos, grande parte dos conservadores, somos uma raça manchada e enraizadamente influenciada pelo pecado, que para os cristãos não é apenas uma conduta social inadequada, mas uma condição natural humana que, sem a intervenção divina (direta ou indireta, pela Bíblia), não pode praticar nada de bom, observando através desta perspectivas os erros e acertos da humanidade como cumprimento ou não cumprimento dos valores divinos. E diante da ação e entendimento destes valores divinos, promover o bem é vivê-los e transmití-los a outros seres humanos.

Já para os esquerdistas, que tem uma visão em geral humanista da realidade, o homem é gerador de valores, capaz de, diante de melhores condições sociais, econômicas e educacionais, escolher praticar o bem ou o mal, e diante de condições ideais para a escolha do bem, propagá-lo.

Os embate entre as duas posições sempre se dará principalmente por estas razões e pelo seu efeito em suas cosmovisões. Os direitistas nunca aceitarão a posição dos esquerdistas pois sabem que do homem só pode vir o mal, devido ao efeito do pecado, e que a atuação dos indivíduos somente pode ser boa diante da interferência de Deus, e tem à seu favor os exemplos de que o mal não deixou de existir e nem de ser praticado em sociedades praticamente "livres" de influências cristãs, onde apesar das condições sociais, educacionais e econômicas equilibradas, ainda há crimes, assassinatos, roubos, etc. Enquanto os esquerdistas utilizam à seu favor o fato de que sociedades cristãs, e que até tinham sua religião como aparelho do Estado ou crença oficial e geral da sociedade, não tiveram boa conduta e também houve desigualdade, crimes, violência, às vezes até sob a interpretação (errada) de que eram da vontade de Deus à luz da Bíblia.

Vemos que o mal é presente e está na essência do homem, com apenas uma diferença entre as duas posições, que é a de que os cristãos tem uma explicação extremamente razoável e consistente para este mal: o pecado. E diante esta perspectiva, não podem confiar plenamente em algum tipo de governo que, mesmo corretamente desvinculado do cristianismo, o proíba, interfira ou queria se afastar totalmente de seus valores, como querem os governos de esquerda quanto mais alcançam poder.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Nota: Sobre igrejas e argumentos de desigrejados

-- Caro Ramon, você considera as cartas dos apóstolos do novo testamento como inspiradas?
-- Amigo eu considero o que saiu da boca de Jesus e está relatado. Discussões sobre documentos secretos da Ig, Católica e essas coisas eu ainda não sei nada a respeito... Pq a pergunta?
Perguntei porque eu creio na inspiração das cartas e na soberania de Deus para preservar o cânon como o temos. Não sei os motivos de você não acreditar, ou não buscar conhecer. Já que as fontes das cartas e dos evangelhos são praticamente as mesmas. E sendo assim nossa discussão fica prejudicada, pois não temos as mesmas bases, mas vou tentar argumentar contigo.

Jesus Cristo ordenou a congregação (não os templos ou instituições, obviamente, essas são apenas formas organizadas, mas válida, de congregação). E muita gente, não sei se é o seu caso, desconsidera a igreja e passa a encontrar meios de rejeitá-la por experiências ruins. Posso falar por mim, eu faço parte de uma igreja que não é perfeita, mas tem projetos com drogados, em bairros pobres e trabalhos missionários, onde direciona seu dinheiro. Todo mês todos os membros recebem um relatório de onde foi cada real gasto.
As cartas apostólicas nada mais são que direcionamentos inspirados e alinhados a todo o restante da Escritura para orientar essa igreja, ordenada por Cristo. Inclusive o pastoreio foi orientado por Cristo. Os pastores recebem pois o trabalhador é digno de seu salário, mesmo assim devem receber para se manter, e não enriquecer.

Agora, pegar os péssimos exemplos que realmente existem de igreja, generalizar e desacreditá-la, eu acho um tanto injusto meu caro. Imagino que o amigo conheça os evangelhos, então não vou citar os textos, mas caso queira eu os cito.

No amor de Cristo!